domingo, 28 de novembro de 2010

Saudade

Saudade, tamanha saudade
Mais que o vigia espera pela aurora
Suspira meu coração por vós, ó amor
Meu coração arde de amor por ti
Brasa que queima minha alma
E, quebrando todos os laços que me amarram
Purificam a obra de tuas mãos.
É assim o caminho dos que seguem o amor
Provados no fogo e forjados como ouro
Preciosos e protegidos e para sempre eleitos
Tem seus nomes gravados no coração perfurado pela lança bendita
Banhados incessantemente pelo sangue e pela água
Mais que a corça suspira pelas águas correntes
Anseia minha alma por ti, ó amor
Saudade tamanha, mesmo com tua presença
Saudade e paz intermináveis

Deserto de minh'alma

O deserto de minh’alma,
disfarçado em véu de severidade,
retira de mim tudo que me é seguro,
afasta de mim tudo aquilo que amo.
O deserto de minh’alma
impõe a mim solidão
e bruscamente a escuridão.
Aventura tão amável,
prosseguida a lentos passos.
Passos trôpegos, ainda que determinados,
forçados e fortificados pelo amor.
O local da intimidade para onde os mais necessitados e, não menos, corajosos são convidados.
Um sítio do amor bastante, do amor quietante.
No deserto de minh’alma sou guiada apenas pela luz que arde em meu peito.
Velada pela escuridão que me impunha fitar somente o amor.
Quão indesejado foste, deserto de minh’alma,
com minhas fraquezas, afastado.
Quão desejado és agora, aconchego do íntimo amor.
O doce deserto de minh’alma enlaça-me ao amor.
Em segredo deixo-me ficar.
Meus cuidados, meus amores perdidos e seguros estão no amor.
O deserto de minh’alma, outrora seco e temeroso,
já doce e seguro afirma-se, pelo amor afagado.

Construção da Intimidade

No deserto vagueia minh’alma, norteada pelo amor, pelo desejo do amor. Minha pobre alma tem sede e por isso vai, entra, pisa a areia quente. Não leva consigo nem alimento, nem duas túnicas. Foi esta a condição que o amor me exigiu. Ao deserto são conduzidos aqueles que permitem intimidade. Intimidade forjada no amor, na sedução do amor que não prende, mas solta num laço do qual insano é desvencilhar-se. Nada carrega minha alma, apenas seu vaso. A cada passo este vaso é rachado e vai deixando cair ao chão sua água. E queima o sol. A água é sugada pela areia  fofa, é peneirada, é desfeita. É o desejo de intimidade que me faz seguir, que não me permite aparar o que cai do meu vaso rachado. É a certeza de que bem lá na frente existe uma fonte, uma fonte de vida. Meu vaso, ao longo do caminho, enquanto subo e desço dunas, enquanto tropeço em alguma pedra e caio, enquanto a luz do sol arde em meus olhos e, mesmo  assim, estendo a mão e sou levantada, rachará, quebrará e eu juntarei os pedaços. Meus pedaços seguirão nas mãos do amor até o final, até que eu alcance a perfeita intimidade.

Em 22.out.10

Um caminho só me resta

Como dói abrir o coração e entender as suas verdades
Como dói entrar em solidão e deixar Deus moldar
Quebrar e juntar
Derrubar e levantar
Tudo sabes, tudo sabes
Sabes como atravessar esse vale escuro
Sabes como chegar ao outro lado
Preciso deixar, preciso permitir
Que tu entres em mim e me refaça
Apesar de toda dor, apesar de toda lágrima
Preciso deixar o teu amor me sarar
A quem irei, Senhor
Um caminho só me resta
Para ter água viva
A cruz devo abraçar


Num tempo de dor, de separação, de distâncias bem mais dolorosas que as físicas. 
Tempo em que Deus arrancou de mim algo bem caro.
Tempo de aceitar Deus me fazer aprender a amar mais.
08.out.10

Para sempre seguir-te e não voltar atrás

Que estranha misericórdia.
Que estranho jeito de me fazer crescer, de me ensinar.
Que educação é essa tua que rasga o meu peito, que tira de mim minhas preciosidades.
Por que, Senhor, me tiraste da terra do Egito e me conduz agora por este campo árido, por este deserto desalmado que não se compadece das almas que nele entram.
Pensas tu que poderei atravessá-lo? Pensas tu que conseguirei suportar a todas essas lamentações? Pensas tu que comendo deste pão das lágrimas terei forças para chegar ao outro lado?
Ou acaso é desejo teu que dele eu não saia viva? É teu desejo retirar tudo de mim? Desejas despir-me e expor-me?
Que modo tão estranho tens de amar teus escolhidos. Desejas que eu morra de saudades de ti. Desejas que eu esteja verdadeiramente em solidão e verdadeiramente te espere mais do que espera o vigia pela aurora.
Não percebes que posso não resistir às provas. Não percebes que o exílio é o começo da minha morte?
Desejas matar-me! Desejas matar-me!
Por que cedi aos teus encantos, Senhor?
Por que decidi para sempre seguir-te e não voltar atrás?

Resistindo em crescer, em 30.set.10

Chamado


Está aberta no coração de Deus, uma fenda, para que eu, com minha miséria, possa entrar e quedar. Incipiente nos teus caminhos, terei de esperar os teus desígnios a cada manhã. A cada momento me chamas a amar, a cuidar. E nesse ínterim, passo a passo, vou percorrendo as vias do teu coração sagrado. Gotas do teu sangue purificador banham-se os pés e transbordam deste abrigo onde me queres resguardar.
E de onde vem esta luz tão branca, incandescente, que me toma e me impede de ver o próximo passo? Tua misericórdia me constrange.
Encontraste uma maneira de aprisionar-me, de modo que em teus retos caminhos eu permaneça e meus pés não vacilem, de modo que desconhecendo teus planos futuros, deva eu, obrigatoriamente, consumir-me no hoje.
Pois bem, aqui estou, Senhor. Eu vim. Guia-me.

Em 09.fev.10

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Corações juntos sempre

És maior, és maior que tudo
Deus supremo, Senhor do mundo
Nada além da tua vontade
Nada aquém do teu querer
Assim, as vidas que a ti pertencem
Assim, os corações postos juntos a compartilhar
Juntos a erguer e sustentar a si mesmos
Juntos sempre
Tão intrínsecos um ao outro
Com destinos particularmente traçados
Corações selados e aprisionados
Sedentos e dependentes do teu amor
Minha preciosodade te entrego
Cuida, Senhor, e me ensina a cuidar
Protege, Senhor, e me ensina a proteger
Acolhe, Senhor, e me ensina a acolher
E me devolve, somente a parte que me cabe
Quando estiver pronta para receber.

À amiga distante, sempre mais amada...

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Dentro e fora

Eis que estavas dentro e eu fora
Dentro estava a verdade
E eu vagueava por caminhos incertos, mas tão certos quanto minha inteligência poderia traçar.
Fora estavam as ilusões
E eu com elas estava, eu nelas estava, com elas me alimentava, embora eu própria as construisse.
Desenhava, recortava, apagava e escrevia, montava uma vida nas ilusões...
Elas me escondiam, de mim e de todos, me eram seguras, me davam o controle.
E dentro, dentro estava aquilo do qual me esquivava.
Cercado por muros, densos e fechados estava o meu eu...
Tão trancafiado ficava que eu mesma, vindo de fora, não podia penetrar dentro.
Dentro também estava o Amor, a consumir-se, a mostrar-se, a esforçar-se por libertar o meu eu, a querer-se íntimo.
Estava a luz que desejava irradiar para fora, tendo antes iluminado dentro.
Dentro estava a verdade, a verdadeira caridade.
É a verdade que me chama a pôr fim na minha surdez, que me chama a estar dentro, fora da escuridão das minhas ilusões.


À minha amada FP sem noção, que guia minhas descobertas.

domingo, 7 de novembro de 2010

Prece da amizade

Conduz-me, Esposo de minh'alma
pelo caminho da liberdade na amizade
esteja, Senhor, o meu coração aberto
para acolher e deixar-me ser acolhida
para cuidar e deixar-me ser cuidada
Permite-me, Amado meu, a vivência do amor verdadeiro
do amor que vem do teu coração
do amor que edifica e faz crescer
do amor que torna livre e leva ao céu
do amor que salva e tem em Ti o centro
Dá-me a graça de ser amigo
de ser sustento e de ser sustentada
por meus irmãos na caminhada
Que na busca da santidade daqueles que me confiares
possa eu priorizar no coração deles o teu espaço
e prezar pela realização da tua vontade
Desejo, Senhor, assim livre amar a Ti nos meus amigos.

sábado, 6 de novembro de 2010

Sede de Deus

Assim como a corça suspira pelas águas correntes,
Suspira igualmente minh’alma por vós, ó meu Deus!

Angústia suprema
Tormento da alma
Onde está o meu Deus?
Onde se esconde o meu Senhor?

Migalhas são a mim oferecidas
Para todos a minha volta são como tesouros
Poderei contentar-me e sufocar o meu grito?
Poderei beber e saciar minha sede?

Assim como a corça suspira pelas águas correntes,
Suspira igualmente minh’alma por vós, ó meu Deus!

Um tesouro vão
Novamente bebi e não me saciei
Aí, meu Amado não está
Aí, meu amor não construiu nossa casa

Minha alma arde no peito
Pois a ferida está pelo amor
Com o que me trouxeram não cicatrizou
Pois, aí, não encontro meu Senhor

Assim como a corça suspira pelas águas correntes,
Suspira igualmente minh’alma por vós, ó meu Deus!

Vinde, ó meu Deus, achega-te a mim
Sacia meu ser, cura esta dor
Minha alma ansiosamente espera
Não desprezeis meu coração sedento
Sempre mostrai-me vossa face
Pois minha alma desfalece de saudade