domingo, 28 de novembro de 2010

Construção da Intimidade

No deserto vagueia minh’alma, norteada pelo amor, pelo desejo do amor. Minha pobre alma tem sede e por isso vai, entra, pisa a areia quente. Não leva consigo nem alimento, nem duas túnicas. Foi esta a condição que o amor me exigiu. Ao deserto são conduzidos aqueles que permitem intimidade. Intimidade forjada no amor, na sedução do amor que não prende, mas solta num laço do qual insano é desvencilhar-se. Nada carrega minha alma, apenas seu vaso. A cada passo este vaso é rachado e vai deixando cair ao chão sua água. E queima o sol. A água é sugada pela areia  fofa, é peneirada, é desfeita. É o desejo de intimidade que me faz seguir, que não me permite aparar o que cai do meu vaso rachado. É a certeza de que bem lá na frente existe uma fonte, uma fonte de vida. Meu vaso, ao longo do caminho, enquanto subo e desço dunas, enquanto tropeço em alguma pedra e caio, enquanto a luz do sol arde em meus olhos e, mesmo  assim, estendo a mão e sou levantada, rachará, quebrará e eu juntarei os pedaços. Meus pedaços seguirão nas mãos do amor até o final, até que eu alcance a perfeita intimidade.

Em 22.out.10

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